O
estilo barroco chega ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, sobretudo
portugueses, leigos e religiosos. Seu desenvolvimento pleno se dá no
século XVIII, 100 anos após o surgimento do Barroco na Europa,
estendendo-se até as duas primeiras décadas do século XIX.
Como
estilo, constitui um amálgama de diversas tendências barrocas, tanto
portuguesas quanto francesas, italianas e espanholas. Tal mistura é
acentuada nas oficinas laicas, multiplicadas no decorrer do século, em
que mestres portugueses se unem aos filhos de europeus nascidos no
Brasil e seus descendentes caboclos e mulatos para realizar algumas das
mais belas obras do barroco brasileiro.
Pode-se
dizer que o amálgama de elementos populares e eruditos produzido nas
confrarias artesanais ajuda a rejuvenescer entre nós diversos estilos,
ressuscitando, por exemplo, formas do gótico tardio alemão na obra de
Aleijadinho (1730-1814).
Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa). |
O movimento atinge o auge artístico a partir de 1760, principalmente com a variação rococó do barroco mineiro.
Durante
o século XVII a Igreja teve um importante papel como mecenas na arte
colonial. As diversas ordens religiosas (beneditinos, carmelitas,
franciscanos e jesuítas) que se instalam no Brasil desde meados do
século XVI desenvolvem uma arquitetura religiosa sóbria e muitas vezes
monumental, com fachadas e plantas retilíneas de grande simplicidade
ornamental, bem ao gosto maneirista europeu. É somente quando as
associações leigas (confrarias, irmandades e ordens terceiras) tomam a
dianteira no patrocínio da produção artística no século XVIII, momento
em que as ordens religiosas vêem seu poder enfraquecido, que o barroco
se frutifica em escolas regionais, sobretudo no Nordeste e Sudeste do
país.
Contudo
a primeira manifestação de traços barrocos, se bem que misturado ao
estilo gótico e românico, pode ser encontrada na arte missionária dos
Sete Povos das Missões na região da Bacia do Prata. Ali se desenvolveu,
durante um século e meio, um processo de síntese artística pelas mãos
dos índios guaranis com base em modelos europeus ensinados pelos padres
missionários. As construções desses povos foram quase totalmente
destruídas. As ruínas mais importantes são as da missão de São Miguel,
no Estado do Rio Grande do Sul.
As
primeiras manifestações do espírito barroco no resto do país estão
presentes em fachadas e frontões, mas principalmente na decoração de
algumas igrejas, também em meados do século XVII.
A
talha barroca dourada em ouro, de estilo português, espalha-se pela
Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, construída entre 1633 e
1691. Os motivos folheares, a multidão de anjinhos e pássaros, a figura
dinâmica da Virgem no retábulo-mor, projetam um ambiente barroco no
interior de uma arquitetura clássica.
Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. |
A
vegetação barroca é introduzida na Bahia no fim do séc. XVII na
decoração, por exemplo, da antiga Igreja dos Jesuítas, atual Igreja
Catedral Basílica, cuja construção da capela-mor, com seus cachos de
uva, pássaros, flores tropicais e anjos-meninos, data de 1665-1670. No
Recife destaca-se a chamada Capela Dourada ou Capela dos Noviços da
Ordem Terceira de São Francisco de Assis, idealizada no apogeu econômico
de Pernambuco, em 1696, e finalizada em 1724.
Capela Dourada ou Capela dos Noviços da Ordem Terceira de São Francisco de Assis |
Entre
os anos de 1700 e 1730 uma vegetação de pedra esculpida tende a se
espalhar nas fachadas, como imitação dos retábulos, seguindo a lógica da
ornamentação barroca. Em 1703 o dinamismo conquista o exterior pela
primeira vez de forma ostensiva na fachada em estilo plateresco da
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, em Salvador. No
entanto, vale notar que tal exuberância representa uma exceção no
barroco brasileiro, pois mesmo em seu período áureo as igrejas barrocas
nacionais, tal como as portuguesas, são marcadas por um contraste entre a
relativa simplicidade de seus exteriores e as ricas decorações
interiores, simbolizando dessa forma a virtude do recolhimento,
requisito necessário à alma cristã.
Esses primeiros 30 anos marcam a difusão no Brasil do estilo "nacional português", sem grandes variações nas diversas regiões .
Surge
então um novo ciclo de desenvolvimento do barroco entre meados de 1730 e
1760, com predominância do estilo português "joanino", cuja origem
remonta ao barroco romano. Há uma significativa barroquização da
arquitetura com a construção de naves poligonais e plantas em elipses
entrelaçadas. Destaca-se no período, com ressonâncias posteriores, a
atuação dos artistas portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de
Brito.
Nota-se
que, em meados do século XVIII, a perda da força econômica e política
inicia um período de certa estagnação no Nordeste, com exceção de
Pernambuco, que conhece o estilo rococó na segunda metade do século. O
foco volta-se para o Rio de Janeiro, transformada em capital da colônia
em 1763, e a região de Minas Gerais, desenvolvida à custa da descoberta
de minas de ouro (1695) e diamante (ca.1730). Não por acaso, dois dos
maiores artistas barrocos brasileiros trabalham exatamente nesse
período: Mestre Valentim (ca.1745-1813), no Rio de Janeiro, e o
Aleijadinho, em Ouro Preto e adjacências.
É
na suavidade do estilo rococó mineiro (a partir de 1760) que se
encontra a expressão mais original do barroco brasileiro. A extrema
religiosidade popular, sob o patrocínio exclusivo das associações
laicas, se expressa em um espírito contido e elegante, gerando templos
harmônicos e dinâmicos de arquitetura em planos circulares, com graciosa
decoração em pedra-sabão. As construções monumentais são
definitivamente substituídas por templos intimistas de dimensões
singelas e decoração requintada, mais apropriados à espiritualidade e às
condições materiais do povo da região.
Um
dos exemplos mais bem-acabados desse estilo pode ser contemplado na
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767),
cujo risco, frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e
lavabo são de autoria de Aleijadinho. A pintura ilusionista do teto da
nave (1802) é de um dos mais talentosos pintores barrocos, Manoel da
Costa Athaide (1762-1830).
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767). |
Destaca-se
ainda a parceria dos dois artistas nas esculturas de madeira
policromada (1796-1799) representando os Passos da Paixão de Cristo para
o Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos, em Congonhas do Campo. No adro
desse santuário, Aleijadinho deixa o testemunho mais eloqüente de seu
talento artístico: seus 12 Profetas de pedra-sabão (1800-1805).
Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos. |
No
Rio de Janeiro a presença lusitana se faz sentir mais fortemente.
Distingue-se das outras cidades pela tendência à sobriedade neoclássica,
reforçada pelas influências no Brasil da reforma pombalina. Na arte
civil (por exemplo: Passeio Público, de 1779-1785 e Chafariz da Pirâmide,
de 1789) e sacra de Mestre Valentim o perfeito equilíbrio entre os
postulados racionais do classicismo, a dinâmica e grandiloqüência do
barroco e um certo sentido de preciosismo e delicadeza da estética
rococó, sintetiza brilhantemente o espírito da arte carioca da segunda
metade do século XVIII.
Fonte texto:
Fonte imagens:
Pesquisa Google.
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