“Deixai todas as esperanças, ó vós que aqui entrais”
A
célebre frase fixada nos portais do Inferno marca uma das mais
importantes obras da literatura universal: A Divina Comédia, de Dante
Alighieri. O livro, escrito no início do século XIV (provavelmente entre
1304 e 1321), narra a aventura do próprio Dante pelo espaço além da
vida: inferno, purgatório e paraíso. Em cada diferente momento da sua
jornada, o autor – guiado sempre de perto pelo poeta Virgílio – encontra
personagens famosos e anônimos submetidos a todo tipo de dor e flagelo:
papas, tiranos, assassinos...
O
primeiro círculo infernal é o Limbo, onde permanecem todas as almas que
não escolheram seguir a Cristo, mas que foram virtuosas. É lá que Dante
encontra Homero, Ovídio e Horácio três dos maiores escritores da
história. No segundo círculo estão os luxuriosos que, por castigo, são
submetidos a uma eterna tempestade de vento. O terceiro círculo é
reservado aos gulosos que são flagelados por uma chuva putrefata e
vigiados pelo mitológico cão de três cabeças, Cérbero. No quarto círculo
estão os avarentos empurrando pesos enormes. No quinto ficam aqueles
que foram tomados pelo ódio, imersos para sempre na lama ardente do
Pântano do Estige.
Ao
longo de nove diferentes ciclos, Dante vai identificando todos os
diferentes pecados humanos e atribuindo para cada um deles um flagelo
diferente. Estão no inferno os rabugentos e taciturnos; aqueles que não
acreditam na vida após a morte; os bajuladores; os hipócritas; os
blasfemadores; os suicidas; os astrólogos e videntes... e uma infinidade
de outros pecadores.
A
riqueza de detalhes com que Dante descreve sua viagem é impressionante.
Nos vários níveis do Inferno, as almas pecadoras são submetidas a
castigos inimagináveis: alguns são esfaqueados por toda a eternidade;
outros atacados pela sarna ou envoltos em chamas; há aqueles que são
obrigados a vestir pesadas roupas feitas de chumbo e ainda os que se
vêem mergulhados em excrementos humanos...
É
natural que uma das mais importantes obras da literatura universal e
que explorou o maior mistério da humanidade– a vida após a morte –
provocasse o interesse e a curiosidade de uma legião de estudiosos,
leitores e expoentes de outras artes.
No
universo da pintura, há expoentes como Gustave Doré, Eugene Delacroix,
Bouguereau e uma infinidade de artistas que, desde a idade média, vem
tentando traduzir em imagens o fantástico mundo de Dante
Dante em quadrinhos
– Mais recentemente a Divina Comédia ganhou duas novas versões. E,
desta vez, em quadrinhos. O NONA ARTE comenta aqui o trabalho do
ilustrador americano Seymour Chwast que acaba de chegar ao Brasil pela
Companhia das letras.
Seymour
é fiel ao texto de Dante, mas extremamente ousado e inovador na
concepção artística do livro. Assim como Dante colocou no inferno vários
contemporâneos seus, Seymour procurou introduzir modernidade em sua
releitura em quadrinhos: roupas modernas, mafiosos, lanchas
motorizadas... e um Dante vestido como um detetive dos filmes noir em
busca da verdade sobrenatural.
A
maior revolução do artista, entretanto, está no seu traço. Seymour é
reconhecido mundialmente com um dos maiores artistas comerciais em
atividade. Seus trabalhos estão em capas de livros, rótulos de inúmeros
produtos e museus. Ele consegue sintetizar páginas inteiras em um único
desenho. Neste sentido, o trabalho de Seymour está longe de “esgotar” o
conteúdo da Divina Comédia, mas é uma interpretação ágil e sintética
para quem quer ter um primeiro contato com a obra do mestre italiano.
0 comentários:
Postar um comentário